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Deslizamentos na rodovia da Chapada dos Guimarães

O  objetivo deste  artigo é  fazer  uma  breve análise geológica referente  aos    motivos de deslizamentos que ocorrem no trecho do Portão do Inferno , na Rodovia MT-251, rodovia que interliga Cuiabá ao município turístico de Chapada dos Guimarães . Isto vem comprometendo o acesso à Chapada , fato tão importante , que foi matéria do Jornal Nacional recentemente. Farei uma breve análise geológica deste episódiol em uma linguagem não acadêmica, para entendimento de um grupo maior de interessados .      

Trata-se de um fenômeno natural , geomorfologico,que é o “Recuo das Escarpas” ,caracterizada pelo recuo erosivo das mesmas. Escarpa , geológicamente , é um relevo de transição entre duas superfícies topográficamente distintas . No caso especifico do “ Portão do Inferno ” , temos a Formação Botucatu , acima formando o ” paredão” de idade juro-cretácica , de cerca de 70 milhões de anos. Já a superfície abaixo , é formada pelos sedimentos marinhos da “ Formação Furnas “ , depositados em ambiente costeiro há cerca de 400 milhões de anos atrás , de idade devoniana .      

O agravante nesta análise geológica da situação dos deslizamentos da estrada da Chapada , (  colegas que falaram sobre o assunto, abordaram e muito bem ,as questões geotécnicas do deslizamento), é que , esta  camada   que   esta  ocorrendo os  deslizamentos , foi depositada pelo vento ( deposição eólica) , na época da instalação do maior deserto da historia geológica do planeta ,o “ Deserto Botucatu” . Então , como foi depositada pelo trabalho geológico do vento , é constituída predominantemente de areia de granulometria de 2,5mm a 0,5 mm . Grãos foscos e achatados pelo transporte eólico, em tempestades de areia , não possuindo argilos minerais , que poderiam promover a cimentação do pacote , facilitando a sua sustentabilidade   .     

  Ao contrário, sem a presença de cimentação , esta camada  torna _ se mais friável . E com o aumento da precipitação , pode e é o que acontece atualmente, acelerar o processo erosivo das escarpas . Assim , gerando este grave problema , que está comprometendo o turismo e o comércio da nossa querida Chapada dos Guimarães.         

Em um artigo de um dos maiores geomorfólogos do pais , o Prof. Aziz Ab’Saber,  com base em estudos de campo  e análises do processo de erodibilidade  do Grupo Cuiaba , na Baixada Cuiabana , afirmou que este pacote de Rochas sedimentares do Grupo Chapada de idade devoniana , é efetivamente a borda noroeste da Bacia Geológica do Paraná ,   no final do período terciário e início do quaternário . Cerca de 2 milhões de anos atrás , recobria toda a extensão da Baixada Cuiabana .         

  Porém , o recuo vertical , levou as escarpas da Chapada dos Guimarães, a  cotas entre 800 a 600 metros acima do nível do mar ( ANM), até o local atual .Tendo com referência a Rodovia Estadual MT-251 , estrada que liga Cuiabá a Chapada dos Guimaraes , o contato dos relevos é atualmente na Cachoeira da Salgadeira , onde temos o contato das rochas da Formação Furnas ,sobreposto ao Grupo Cuiabá . Segundo o Prof.Ab’Saber o morro de Santo Antônio, é um morro testemunho de um páleo _ relevo da Baixada Cuiabana, erodida cerca de 200 metros após o recuo das escarpas, e exposição do Grupo Cuiaba , constituído predominantemente de Filitos ,bem menos resistente a erosão, do que os arenito da Formação Ponta Grossa , que aflora no alto das encostas.    

Mas o que importa , é que Ab’ Saber , calculou o recuo das escarpas da Chapada dos Guimarães a cerca de 5 mm por ano . Há alguns milhares de anos a  frente  , as escarpas da Chapada dos Guimarães poderá estar próxima à Cachoeira Martinha . Óbviamente , não estaremos aqui para presenciar … _ Infelizmente o tempo geológico é absurdamente mais lento do que o nosso tempo de vida humana.        

O que vemos aqui é apenas uma fotografia .A região , há 400 milhões de anos atrás, era mar. Os braquiópodes do Véu de Noiva , estão aqui para comprovar . Os seixos tipo ” Ferro de passar ” ,encontrados  na  “ Formação  Botucatu “ , no local  dos deslizamentos  e  as  estratificações  cruzadas  de  grande  porte , sinalizam a mudança  da  direção dos  ventos  de  deposição  dos  arenitos Botucatu . Comprovam assim , a deposição eólica da Formação. Isto é a grande beleza do estudo geológico : entender o que as rochas falam, e algumas vezes elas   gritam …    

  *MAX  SALUSTIANO DE LIMA , é geólogo atuante  há  mais  de  40 anos  em estudos  geológicos   no  Mato  Grosso e parte  do Brasil ,  diretor  da empresa  MineroAmbiental Geol.Ass. ltda  www.mineroambiental.com.br e  Instagram  @maxsalustianode

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